Agradecendo especialmente à Camila Baiona pela recomendação e pedindo a todos desculpas pela ausência de posts, encerramos nossa homenagem à Harry Potter, depois da leitura de "Harry Potter e as Sagradas Escrituras..." com palavras atribuídas à mesma autora. [...] Espero que gostem... comentem e divulguem... um grande abraço a todos!
Adler, Shawn. “A autora de ‘Harry Potter’, J.K. Rowling fala sobre a imagem cristã do livro”. MTV, 17 de outubro de 2007.
“Elas quase resumem a série inteira”, ela diz sobre a escritura que Harry lê em Godric’s Hollow.
HOLLYWOOD — O livro lida intensivamente com almas – sobre mantê-las inteiras e a maldade necessária para separá-las em dois. Depois que um herói cai além do véu da vida, seus sussurros ainda são ouvidos. Começa com a premissa de que o amor pode te salvar da morte e termina com a declaração que um sacrifício em nome do amor pode te trazer de volta à vida.
Harry Potter é seguido por elfos domésticos e duendes – não discípulos – mas para o leitor afiado, os paralelos bíblicos são evidentes. Os livros Harry Potter, da autora J.K. Rowling, têm sempre, de fato, lidado explicitamente com temas e questões religiosas, mas até Harry Potter e as Relíquias da Morte, eles nunca haviam citado uma religião específica.
(ALERTA DE SPOILER! O resto desse artigo discute a conclusão de Relíquias da Morte.)
Esse foi o plano desde o começo, Rowling disse a repórteres durante a conferência de imprensa no começo de sua Open Book Tour, na segunda-feira. Não foi porque ela tinha medo de inserir religião em uma estória infantil. Foi porque ela tinha medo de, com a introdução de religião (especialmente cristianismo), falar demais, e deixar os fãs perceberem os paralelos.
“Para mim [os paralelos religiosos estiveram] sempre óbvios”, ela disse. “Mas eu não queria falar sobre isso abertamente, porque eu achei que isso poderia mostrar às pessoas onde chegaria a história”.
De fato, como é mais simplista, o conto final de Harry pode, em alguns aspectos, ser reduzido a uma estória de ressurreição, com Harry aventurando-se em uma estação meio paradisíaca depois de ser atingido pela maldição da morte no capítulo 35, apenas para retornar em seguida.
Mas se ela estava preocupada de dar dicas narrativas nos primeiros livros, ela nitidamente não estava quando Harry visitou seus pais no capítulo 16 deRelíquias da Morte, entitulado “Godric’s Hollow.” Na lápide de seus pais ele lê a citação “Ora, o último inimigo a ser destruído é a morte,” enquanto em outra lápide (o da mãe e da irmã de Dumbledore) ele lê, “Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração”.
Enquanto Rowling disse que Hogwarts é uma escola de vários credos, “essas citações, é claro, são claramente cristãs. A segunda é uma citação direta de Jesus encontrada em Mateus 6:19, a primeira vem de Coríntios 15:26. Enquanto Hermione conta a Harry depois que ele vê os túmulos, a mensagem de seus pais significa “vida além da morte. Vida depois da morte”. Essa é uma das fundações centrais da teologia resurrecionista.
O que combina perfeitamente com Harry, disse Rowling, que estava falando sobre essas citações pela primeiríssima vez.
“Os livros são bem britânicos, então, em uma nota muito útil, Harry iria encontrar citações bíblicas em lápides”, Rowling explicou. “[Mas] eu acho que essas duas citações que ele encontra nas lápides em Godric’s Hollow, elas resumem – elas quase resumem a série inteira”.
Por ser o que junta as três Relíquias da Morte, Harry, de fato, se torna o “Mestre da Morte” no final do romance, podendo trazer de volta os espíritos de seus pais, seu padrinho Sirius Black e seu antigo professor Remo Lupin. É uma conclusão que termina com a luta de Harry, que dura três livros, com questões sobre a vida após a morte, que começa quando Sirius atravessa um véu ligando este mundo e o próximo no final de Ordem da Fênix.
O próprio Relíquias da Morte começa com dois epígrafes de temas religiosos, um de The Libation Bearers por Aeschylus, que clama pelos deuses para “abençoe as crianças”; e um de More Fruits of Solitude, de William Penn, que fala sobre a morte como “cruzando o mundo, como amigos fazem com os mares”. Nenhum outro livro da série começa com epígrafes – um fato curioso, talvez, mas que Rowling insiste em servir como guia.
“Eu realmente gostei de escolher essas duas citações poque uma é pagã, é claro, e uma é da tradição cristã”, Rowling disse da inclusão, “Eu sabia que seriam essas duas passagens desde que Câmara foi publicado. Eu sempre soube [que] se eu pudesse usá-las no começo do sétimo livro, eu teria dado uma dica perfeita para o final. Se elas fossem relevantes, então eu fui onde tive que ir.
“Elas apenas significam tudo para mim, elas realmente significam”, ela adicionou.
Mas enquanto o livro começa com uma citação sobre a alma immortal – e embora Harry encontre paz com sua própria morte no final de sua jornada – é a própria luta que espelha a de Rowling, segundo a autora.
“A verdade é que, como Graham Greene, eu acredito as vezes que minha fé retornará. Luto muito com isso,” ela revelou. “Em qualquer momento, se você me perguntasse se eu acredito em vida após a morte, eu acho que se você me perguntasse regularmente durante a semana, eu acho que eu iria acabar dizendo que sim – que eu acredito em vida após a morte. [Mas] luto com isso muito. Isso me preocupa muito, e eu acho que é bem óbvio perceber isso através dos livros”.
Que, com o reconhecimento da autora, Harry Potter lida intensivamente com temas cristãos pode ser de certa forma irônico, considerando que tantos líderes cristãos denunciaram a série por exaltar a bruxaria. Quando ele era conhecido apenas como Cardeal Joseph Ratzinger, o próprio Papa condenou os livros, escrevendo que suas “seduções implícitas, que agem despercebidas… distorcem profundamente o cristianismo na alma antes que ele possa crescer devidamente”.
De sua parte, Rowling disse que tem orgulho de estar em tantas listas de livros banidos. Em relação aos protestos de alguns crentes? Bem, ela não leva a sério.
“Eu mesma vou à igreja”, ela declarou. “Eu não tenho nenhuma responsabilidade sobre os fanáticos da minha própria religião”.
Junior Takanage
14.II.2012
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