"Harry Potter e as Sagradas Escrituras - Parte 2"
Partimos
pela autora
Como já mencionado,
não podemos fazer uma análise de uma obra, especialmente de
considerável extensão, sem ver o que a autora quer transmitir, sem
saber suas intenções iniciais! A arte é a plasmação daquilo que
trazemos em nosso interior em forma de versos, pinturas, notas,
melodias, cantos, sentimentos, rimas e tudo o que é arte.
Neste
caso, a arte é uma história fictícia, fantasiosa que também fala
de algo que J.K. Rowling traz em seu coração, em sua vida, em sua
tradição inglesa! Rowling se declara, desde todo o tempo, uma
pessoa teísta:
“Eu creio em Deus, não em mágica.” (2) Sua
vida tem marcas de uma fé vivida dentro de uma Igreja: “Eu vou à
Igreja”. (3)
Observando então que
a autora se considera teísta, praticante, não temos, desde uma
primeira instância porque condená-la com o fato de uma obra
discípula da Wicca e coisas assim! Em todo momento, falando de seus
personagens, Harry Potter foi escrito com partes da sua vida. Mas
atenção: falando dos personagens e não da história: atribui, por
exemplo, a Dumbledore a imagem de um antigo professor.
E por que este chamado
de atenção? Porque aqui já encontramos um primeiro tema que pode
ser sugerido na segunda parte deste dissertar: ela constrói Harry
Potter com pessoas que marcaram sua vida, com pessoas que de algum
modo, deixaram em sua alma, pegadas de algo passado, e que por tanto
se faz eterno: eis aqui um dos principais temas do cristianismo: a
vinculação do homem, da sociedade, a unidade, e como comunmente
usada: eis a COMUNIDADE, o vínculo, o amor ao próximo que se
perpetua na vida! Rowling trás a estes amigos em seu coração e os
dá vida!
Não digo aqui que a
autora trabalhou todos estes temas de forma consciente, ainda que ela
mesma tenha afirmado que quando pensou nos personagens, pensou nas
pessoas que a fizeram imaginá-los; o que quero dizer é: em nenhum
momento deste trabalho estou cogitando a hipótese de que a autora
tenha pensado tudo de uma forma cristã, mas sim, que como isso já
tem suas raízes nela, não poderia ser de forma diferente.
E
já que menciono isto, também seria válido mencionar algo com o
qual podemos nos deparar ao buscar na rede de vídeos online YOUTUBE,
uma conversa da autora com o protagonista dos filmes: Rowling e
Daniel Radcliffe conversam acerca do livro que se tornou filme e do
grande êxito que ambos encontraram (tanto livro e filme, como autora
e ator). Nesta conversa Daniel formula, de uma forma que me chama
muito a atenção, o tema cultural: “o
que é interessante em Potter é que começou como livro. Meio que
criou uma geração do mesmo tipo de mentalidade NERD, mas com um
gosto para leitura e literatura” . E,
em primeiro lugar, é isso o que alegra a autora: Potter faz que as
pessoas, crianças, jovens e adultos leiam, e isto, sem dúvida
alguma é uma colaboração enorme da autora com a sociedade. É
literatura, é arte que penetra em cada ser humano e que cria essa
consciência tão ausente nos dias de hoje, da importância de uma
vida culta, não com sentido de classe social alta, ou com sentido
político de direita, não, mas com o sentido de uma vida cheia de
conteúdo, significado, entendimento, saber, conhecimento. Não vamos
entrar em detalhes filosóficos, mas como não mencionar a Metafísica
de Aristóteles: “Todo
homem tende, por natureza, ao saber”.
E isto foi um grande despertar de Potter, ao qual já poderiamos
agradecer à autora e terminar por aqui, porque quantas pessoas,
adiquiriram o gosto, a sede da leitura e do saber através dos livros
de Potter?
Temos aqui, portanto,
desde a perspectiva da autora, dois pontos a favor da obra: a
vinculação humana que faz Rownling criar os personagens a partir de
pessoas que se vincularam a ela e marcaram seu caminho de vida e a
conquista de uma sociedade leitora de suas obras e que descobriu na
leitura uma fonte de sabedoria.
E
por fim gostaria de mencionar um tema que causou uma grande polêmica
em seu momento e que proibiu algumas escolas de utilizarem ou
possuírem os exemplares dos livros desta coleção! A
Homossexualidade de Dumbledore. Este tema foi durante muito tempo uma
incógnita e apenas se revelou quando a autora lançou o sétimo e
último livro da coleção. Durante uma sessão de perguntas e
respostas, um jovem lhe pergunta sobre o amor de Dumbledore e ela
responde: “Dumbledore
is gay!”. Para
surpresa da autora, os fãs então começaram aplaudi-la, e ela
revelou que durante a gravação do sexto filme (Harry Potter and the
Half-blood Prince) teve que intervir porque queriam colocar uma
suposta relação de Dumbledore com uma moça. Este tema foi de
grande polêmica quando revelado e proibiu nos Estados Unidos, no
Reino Unido e em muitos outros país, o uso e a posse da coleção
nos colégios e a proibição por parte de algumas entidades
religiosas aos seus clérigos de usá-los para pregações, homilías
e tudo mais!
Mas
ela foi aplaudida e com certeza temos aqui uma nova lição: Rownling
mostra ser anti-racismo e anti-racistas, anti-preconceito e sem
nenhum problema assume a sexualidade de seu personagem; ela como
autora, conhece o mais profundo do mesmo! Ela deu até mesmo uma “boa
lavada” nos que se consideram tão grandes como para proibir a
coleção devido a que possua um homossexual na trama e com outras
palavras e gestos, “parafraseou” o Cristo: “Não
julgueis e não sereis julgados, porque da mesma medida que medires,
também sereis medidos.”
(4) Mesmo diante de repreensões Rownling manteve sua opinião e os
livros não só continuaram, mas continuam fazendo um grande sucesso.
Se por um lado ela
pode ser condenada pelas autoridades eclesiais por ser difusora da
anormalidade sexual como normal, temos de outro lado sua persistência
naquilo que ela acredita e por isso, se manteve fiel ao seu interior
e ao interior do seu personagem; por isso já merece nosso respeito.
E já que ela se manteve fiel, também eu apoio sua afirmação e não
pretendo discorrer mais sobre o tema, porque este texto não se trata
de uma reflexão moral sobre a sexualidade humana, do contrário
poderia aumentá-lo em inúmeras páginas.
Temos aqui então
cinco lições partindo da vida e da experiência de vida da autora;
as enumero para que sejam notáveis e para que desde já possamos ir
percebendo a normalidade e a aprovação cristã que tem a coleção:
As afirmações da
autora por sua crença em Deus;
Vinculação humana
e vivência do mandamento do amor expressado na criação de seus
personagens como pessoas que marcaram sua vida;
Difusão da arte
literária abrangendo um grande número de pessoas que se declara
adquirir o hábito de leitura mediante as obras;
Um espírito de amor
sobre o racismo e o preconceito;
Fidelidade à sua
palavra.
Junior Takanage
05.II.2012